quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Pasolini (sobre a sua poesia)

Foi a minha mãe quem me mostrou que a poesia pode ser materialmente escrita, e não apenas lida na escola (“Vítreo é o ar…”). Misteriosamente, um belo dia, a minha mãe mostrou-me um soneto, escrito por ela, em que confessava o seu amor por mim (soneto que, devido, provavelmente, a certas exigências de rima, terminava com as seguintes palavras: “amor, sabes, tenho tanto e tanto” ). Uns dias depois, escrevi os meus primeiros versos, em que falava de “rouxinol” e de “verdura”. Creio que, por essa altura, não saberia distinguir um rouxinol de um tentilhão, ou um choupo de um ulmeiro: e aliás, como é evidente, na escola (por obra e graça da senhora Ada Costella, toscana, minha professora naquele inesquecível segundo ano), Petrarca não era lido. Por conseguinte, não sei onde aprendi o código clássico da eleição e da selecção linguísticas. O facto é que, sem me preocupar com a “abundantia cordis” da minha mãe, comecei por ser rigidamente “selectivo” e “electivo”.
Desde então, escrevi colecções inteiras de livros de versos: aos treze anos, foi o poema épico (da Ilíada a Os Lusíadas). Não me esqueci do drama em verso, nem evitei, com a adolescência, o encontro inevitável com Carducci, Pascoli e D’Annunzio, numa fase que começou em Scandiano — no liceu de Reggio Emilia, para onde tinha de me deslocar todos os dias — e terminou em Bolonha, no Liceu Galvani, em 1937, ano em que um professor substituto — Antonio Rinaldi — leu na aula um poema de Rimbaud.

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