(...) Jovens
que têm nos olhos uma coisa diferente do amor:
uma loucura secreta, de homens que lutam
como chamados por um destino diferente do seu.
Com aquele segredo que já não é segredo,
descem, mudos, ao nascer do sol,
e, embora tão perto da morte, têm o passo alegre
de quem muito caminho no mundo tem a percorrer.
Mas esses são os habitantes dos montes, do areal
selvagem por onde corre o Pó, do fundo
da fria planície. Que fazem entre nós?
Regressam, e ninguém os pára. Não escondem
as armas - que empunham sem dor nem alegria -
e toda a gente baixa os olhos, como cega de pudor
com o brilho obsceno das metralhadoras, o passo de abutres
que descem para cumprir o seu dever obscuro, à luz do sol.
......................
Gostava de ver quem tem coragem para lhes dizer
que o ideal que arde secreto nos seus olhos
está morto, pertence a outro tempo, que os filhos
dos seus irmãos deixaram há anos de lutar,
e que a história cruelmente nova
gerou outros ideais e pacificamente os corrompeu...
Pier Paolo Pasolini, Poemas, Maria Jorge Vilar de Figueiredo (trad.), Assírio e Alvim, 2005.
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