Se por classicismo se pretende exprimir que um autor não escreve num estilo baixo ou cheio de acrobacias inúteis, então usemo-lo. Mas essa expressão, que me parece essencialmente escolar, parece oferecer um enterro de primeira classe a todos os escritores de suposto valor e que as pessoas não lêem. Também não vejo bem em que é que a minha «inspiração se aproxima dos autores do séc. XIX», que, de resto, são o contrário dos clássicos. Se se fala de Memórias - Souvenirs Pieux e de Arquivos do Norte, claro, o séc. XIX é o tema desses livros. Mas Adriano só pôde ser escrito depois de 1945, e A Obra ao Negro vinte anos mais tarde. Dito isto, repito que admiro infinitamente certos escritores do séc. XIX (...) Um Tolstói, um Ibsen, um Dostoievsky, um Nietzsche (e todos, é necessário dizê-lo, diferentes uns dos outros) surpreendem pelos seus incríveis recursos de entusiasmo e generosidade. Tem-se a impressão de que poderiam sempre dizer-nos mais do que aquilo que nos disseram. E o seu poder contestatário coloca-os numa eterna vanguarda.
Marguerite Yourcenar, De Olhos Abertos: Conversas com Matthieu Galey, Renata Correia Botelho (trad.), Relógio d'Água, 2011.
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