terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sarpédon

















«Vai tu agora, ó Febo amado, e limpa o negro sangue
de Sarpédon; tira-o do meio dos dardos e depois leva-o
para muito longe. Dá-lhe banho nas correntes do rio
e unge-o com ambrósia, veste-o com roupas imortais.
Entrega-o a dois pressurosos portadores para o levarem,
Sono e Morte, dois irmãosm eles que rapidamente
o porão na terra fértil da ampla Lícia,
onde seus irmãos e parentes lhe prestarão honras fúnebres,
com sepultura e estela: pois essa é a honra devida aos mortos.»

Homero, Ilíada, Frederico Lourenço (trad.), Livros Cotovia, 2005

Sarpédon, filho de Zeus, rei da Lídia, quase se torna uma excepção entre os homens: o pai, momentos antes de ele morrer, pensa arrebatá-lo do combate contra Pátroclo. Mas Hera chama-o à razão: se Zeus salvasse o filho, iria contra o destino que lhe tinha sido fixado. E Zeus, curvado por pesada dor, deixa que a morte se abata sobre Sarpédon, lançando em seguida uma chuva de sangue sobre a terra.
O episódio da Ilíada demonstra (se considerado anacronicamente) que o destino para os gregos era uma instituição democrática: uma lei à qual nem os deuses escapavam. É também dos poucos momentos na Ilíada em que imaginamos Zeus de pescoço curvado.

2 comentários:

  1. «(...)tira-o do meio dos dardos(...)»

    Fantásticos , o poema em cerâmica e o poema em palavras . Um e outro se substituem , tal é a crueza do que descrevem .

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  2. Para mim toda a Ilíada, de uma ponta à outra, é um livro fantástico.

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