quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Visão cinco

Ali começava o paraíso, dizia ele. E toda
a gente sabia que era de Missolunghi
que ele falava. Na Grécia. Mas o corpo
dela estava frio, preso a uma tenaz.
E uma aranha entrava-lhe pela palma
da mão. Quando terminou a muralha,
deixou que a humidade lhe penetrasse
no corpo e só então o escondeu. Limpou-o
como se lavasse uma estátua e as suas
mãos percorreram-lhe os ombros
e o peito pela última vez. A mulher
mexeu-se ao avistar um barco. Era
a sua memória que pedia socorro.
Mas já o homem a enlaçava com
uma corda e a preparava para a noite.

Jaime Rocha, Os que Vão Morrer, Relógio d'Água, 2000.

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