quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Das relações imperiais

De acordo com Suetónio, Tibério dizia de Calígula que este era não só a sua perdição mas a perdição de todos, e que estava a criar uma «hidra para o povo romano» e um «Faetonte para o universo».
Uma coisa que sempre me fez uma confusão desgraçada é que, se Tibério tinha semelhante estima por Calígula, por que não just... put him out of the way? Não se sabe. É daquelas coisas na história do império romano que nunca saberemos, está na mesma linha de perguntas como: porque é que Aníbal não marchou sobre Roma no exacto instante em que venceu Canas?
Adiante. Sabemos apenas que Tibério, para um gajo que coroava o filho adoptivo de semelhantes epítetos, fez uma coisa muito esquizofrénica. Nomeou o seu neto natural, Gémelo, e Calígula, um adoptado, herdeiros em partes iguais dos seus próprios bens e, ao mesmo tempo, herdeiros dos bens um do outro, o que gerava um impasse na sucessão ao império. Se apenas um herdasse o que era de Tibério, ou se um herdasse uma parte de leão, toda a gente saberia que era esse que Tibério pretendia para seu sucessor. Mas não foi isso que sucedeu. Tibério morreu sem se decidir.
À morte de Tibério, Calígula foi ao senado, fez uma fita desgraçada, disse que gostava do irmão como um filho, mas que o moço ainda era muito novo (como se pode ver, uma diferença brutal de idades, um com 18 outro com 25) e que pretendia adoptá-lo, ficando ele a reger o império, embora os amigos pessoais do imperador argumentassem que devia haver uma divisão efectiva de poderes.
Isto dá-me vontade de especular uma ou duas coisas, nomeadamente saber se Tibério poderia estar a intuir, ao gerar este impasse, um sistema parecido com a tetrarquia, ou seja terminar com a concentração de poderes numa só figura, separando os poderes talvez entre um Augusto e um César. Mas não é possível de facto saber. O que sabemos é que Calígula, very smoothly e um pouco mais tarde, forçou Gémelo a cometer suicídio.

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