Não é fácil para um homem
sepultar a sua sombra,
encontrar o melhor
que a terra nos dá:
um esconderijo.
A língua queimada
recusa as cerejas.
Nenhuma palavra
remove da boca
o gosto da poeira.
Circula sem vida,
por montes e restos,
o corpo tresmalhado.
Alguém há-de saber
para que serve um morto.
José Miguel Silva, Movimentos no Escuro, Relógio d'Água, 2005
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