sábado, 7 de novembro de 2009

o rapaz olha a chuva alastrando
sobre o vinho derramado no chão
tem agora as mãos geladas
os cabelos escorrendo água
curva-se sobre a terra batida
hesita pensa em apanhar os cacos
tirar do caminho a garrafa
escondê-la
pensa em tornar a descer à vinha
recuperar o que
para uma pequena angústia
fica de vez quebrado

é tão fácil a tentação do nada ter acontecido
do ainda aqui não ter estado
tão fácil a palavra que vestia
os joelhos agora sujos de lama
o vinho precioso perece
mas vai alastrando numa poça

a palavra que lhe apaga a pequena face
também te veda um grito a plenos pulmões
vidro partindo-se como não estar agrilhoado
como não ter ainda percorrido
a distância desta corrida
subindo a encosta
os pés descalços derrapando na lama

*
o rapaz corria
com uma energia que nada esgotava
corria seguro com a garrafa debaixo do braço
um pequeno Hermes mas com uma energia cega
férrea estúpida
por isso certa
verdadeira inesgotável

para nada

ele vê o seu reflexo verde
no vidro partido
o vinho agora perto do sangue
o grito chovendo baixinho
próximo dos ouvidos
inventando no peito o lugar do choro
a forma como
há-de mais tarde encolher os ombros
deixar tombar a cabeça para a frente

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