sexta-feira, 27 de novembro de 2009

George Steiner, Doutor «Honoris Causa»pela Universidade de Lisboa

O discurso de George Steiner - e aqui deveria colocar como aposto a expressão «um dos mais brilhantes pensadores vivos», mas isso quase que parece um chavão e está implícito - proferido ontem na Reitoria da Universidade de Lisboa foi curto e sem suporte em papel. Steiner, que recebeu este grau por proposta da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, recordou que as humanidades estão em crise, e, a propósito desta consideração, lembrou que ainda não podemos explicar como é que homens que à noite tocavam Mozart com toda a proficiência exerciam funções de carrasco pela manhã em campos de concentração.
Referiu Saramago como o nosso grande escritor vivo e apelidou Lobo Antunes de dark giant (que diria ele, ou virá a dizer, de Gonçalo M. Tavares?). Proferiu um discurso a dois tempos, maioritariamente em inglês com algumas expressões em francês pelo meio. Descreveu como seria a sua universidade ideal, uma universidade onde se conjugasse o estudo da arquitectura, da física e da música, essa linguagem que, depois de Babel, é a única que é universal, passível de ser compreendida por todos.
Acabou o seu discurso, que alguns poderão descrever como pessimista (os jornalistas portugueses muito possivelmente apenas irão recordar que lamentou não saber português para poder ler Pessoa no original), contando uma anedota onde afinal espreita um olhar de esperança, e talvez de profunda esperança, nas capacidades do homem.
Parafraseando a anedota: Deus resolve acabar com a espécie humana, mas desta vez de forma definitiva. Nada de arca de Noé ou quaisquer outros subterfúgios. O fim chegará em dez dias. Os homens, desesperados, vão ter com o seu rabi: «Rabi, Deus perdeu a paciência, vamos todos morrer afogados dentro de dez dias.» Ao que o rabi responde: «Calma, calma, dez dias é tempo de sobra para aprender a respirar debaixo de água.»
Um discurso curto mas, como se notou no final da cerimónia, muito bonito. Pelo que, gostei (ainda) mais de ouvir George Steiner nesta segunda oportunidade do que na primeira (há ano atrás, na Gulbenkian).

2 comentários:

  1. Um excelente relato, Tatiana, a resumir e fazer invejar aos ausentes a vinda de Steiner à FLUL. E só tenho a concordar com essa ideia de universidade universal...

    - António

    ResponderEliminar
  2. Valeu mesmo a pena. O relato tem falhas porque é de memória.

    ResponderEliminar