De viver na cidade às vezes dá-me uma espécie de nostalgia da minha terra, não de tudo, apenas de duas ou três visões, como por exemplo, as queimas dos arrozais no princípio e no fim das colheitas, ao anoitecer os fogos vão avançando sobre os campos, parecem serpentes que ora se acendem ora se apagam e que limpam a terra para a próxima safra. Ou a visão de uma curva de rio entre Benavente e Salvaterra, estendendo-se sobre a planície. Esta é mais uma imagem do entardecer. Ou a imagem dos miúdos que no Verão entram nas mercearias e saem de lá de dentro apenas com uma ou duas maçãs nas mãos a escorrer água, com um ar de pequena vitória (já vi esta cena uma vez em Lisboa). Ou daqueles mais afoitos que trepam aos muros dos quintais para roubar laranjas. O canto enervante dos grilos perto das janelas. Esse tipo de coisas. São coisas que me parecem semelhantes a certas paisagens descritas por poetas gregos (da antiguidade e modernos), o que é curioso: nunca poderei apostar se esta nostalgia nasce por causa das palavras dos gregos, ou ao contrário, se alguém pode sentir nostalgia da terra onde cresceu apenas por achá-la parecida com aquilo de que falam meia dúzia de poetas de quem gosta.
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