sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Perdi-me no céu — que fazer d'ora em diante?

Perdi-me no céu — que fazer d'ora em diante?
Tu, tão próximo dele — vais-me responder!
Oh, nove discos atléticos de Dante
Era-vos mais fácil o metálico bater,
Sufocar e azular e enegrecer.

Se eu não sou todo inútil nem pertenço
Ao dia de ontem — tu, que acima te colocas
E, provedor do vinho, nos serves as taças —
Serve-me força, evita a espuma vazia,
Que eu beba à saúde da rodopiante torre —
Céu, violento corpo a corpo do azul.

Pombais, negruras, refúgios de estorninhos,
Farrapos de sombras escuras mais azuis,
Gelo da primavera, gelo celestial,
Gelo primevo, nuvens, lutadores de encanto —
Silêncio, que levam uma nuvem pela rédea.

Ossip Mandelstam, Guarda minha Fala para Sempre, trad. Nina Guerra e Filipe Guerra, Assírio & Alvim, Lisboa, 1996.

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