Nenhum poeta moderno é unitário, quaisquer que sejam as suas aspirações professadas. Os poetas modernos são necessariamente dualistas infelizes, porque esta infelicidade, esta pobreza, é o ponto de partida da sua arte - Stevens fala adequadamente da «poesia profunda dos pobres e dos mortos». A poesia pode ou não proporcionar a salvação a um homem, mas aproxima-se daqueles em extrema necessidade de imaginação, ainda que possa então aparecer como terror. Tal necessidade é apreendida pela primeira vez mediante a experiência que o jovem poeta ou o efebo têm de outro poeta, do Outro cuja gratidão nociva é aumentada pelo facto de o efebo o ver como um brilho ardente contra uma moldura de escuridão, um pouco como o bardo da experiência de Blake vê o Tigre, ou Job Levianthan e Behemot, ou Ahab a Baleia Branca, ou Ezequiel o Querubim Protector.
Harold Bloom, A Angústia da Influência: Uma Teoria da Poesia, Miguel Tamen (trad.), 1991.
Lembro-me que aos 17, quando pela primeira vez li este livro, o detestei e não percebi quase nada. Que odiei a terminologia com que Bloom falava da poesia, uma terminologia em parte baseada nas personagens do Paradise Lost de Milton, em termos como «o poeta forte», o «poeta fraco». Há pouco tornei a pegar nele. Constato com muita pena que aos 17 não era tão inteligente como me julgava. O senhor que tem um fato cor de canário (circulava há uns tempos na net uma fotografia de Bloom com um fato amarelo e gravata verde) parece-me ter produzido neste ensaio uma extraordinária (ergo muito relevante) história da génese da poesia, justamente naquilo que esta génese é mais angustiante para um jovem poeta: no ponto em que ele se coloca numa confluência de tradições que o influenciam e contra as quais reage ou que abertamente acolhe. Como se aceita (ou nega) determinada tradição? o que fará um jovem poeta um extraordinário poeta e que características nos permitirão (eventualmente) ver se este será um poeta menor? Sobretudo, o que é a poesia em relação ao poeta? Como lidar com o que nos precede, como lidar com a angústia da influência?
Harold Bloom, A Angústia da Influência: Uma Teoria da Poesia, Miguel Tamen (trad.), 1991.
Lembro-me que aos 17, quando pela primeira vez li este livro, o detestei e não percebi quase nada. Que odiei a terminologia com que Bloom falava da poesia, uma terminologia em parte baseada nas personagens do Paradise Lost de Milton, em termos como «o poeta forte», o «poeta fraco». Há pouco tornei a pegar nele. Constato com muita pena que aos 17 não era tão inteligente como me julgava. O senhor que tem um fato cor de canário (circulava há uns tempos na net uma fotografia de Bloom com um fato amarelo e gravata verde) parece-me ter produzido neste ensaio uma extraordinária (ergo muito relevante) história da génese da poesia, justamente naquilo que esta génese é mais angustiante para um jovem poeta: no ponto em que ele se coloca numa confluência de tradições que o influenciam e contra as quais reage ou que abertamente acolhe. Como se aceita (ou nega) determinada tradição? o que fará um jovem poeta um extraordinário poeta e que características nos permitirão (eventualmente) ver se este será um poeta menor? Sobretudo, o que é a poesia em relação ao poeta? Como lidar com o que nos precede, como lidar com a angústia da influência?
Sem comentários:
Enviar um comentário