domingo, 4 de outubro de 2009

Bem-aventurado

Doce é a luz e agradável aos olhos. A escuridão lê no coração. A corda
foi atrás do balde. Na fonte se perdeu o cântaro. O humilde aldeão
que nunca chegou a sentar-se na roda dos zombadores morrerá
em Agosto de cancro do pâncreas. O polícia que gritou agarra o lobo
morrerá em Setembro de ataque cardíaco. O olhar dele era doce
e doce é a luz, mas os olhos dele já não são e a luz permanece.
A roda dos zombadores foi encerrada, e no seu lugar
abriram um centro comercial. Os zombares faleceram. De diabetes.
De doença dos rins. Bem-aventurada a fonte. Bem-aventurado o balde.
Bem-aventurados os pobres de espírito pois herdarão o lobo.

Amos Oz, O Mesmo Mar, Lúcia Liba Mucznik (Trad.), Edições Asa, 2007.

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