sábado, 31 de março de 2012
sexta-feira, 30 de março de 2012
"The only wisdom we can hope to acquire/ Is the wisdom of humility"
Lawrence Durrell, The Dark Labyrinth, Miguel Serras Pereira (trad.), Ulisseia, 2003.
An erotics of art
quinta-feira, 29 de março de 2012
Incompatibilities
Of its twisting women round men:
Cold-chisels two selfs single as it welds hot
Iron of their separates to one.
Old Eden commonplace: something magnets
And furnaces and with fierce
Hammer-blows the one body on the other knits
Till the division disappears.
But desire outstrips those hands that a nothing fills,
It dives into the opposite eyes,
Plummets through blackouts of impassables
For the stars that lights the face,
Each body still straining to follow down
The maelstrom dark of the other, their limbs flail
Flesh and beat upon
The inane everywhere of its obstacle,
Each, each second, lonelier and further
Falling alone through the endless
Without-world of the other, though both here
Twist so close they choke their cries.
Ted Hughes, The Hawk in the Rain, Faber & Faber, 1972.
quarta-feira, 28 de março de 2012
Misanthropy
terça-feira, 27 de março de 2012
O apóstolo
Albert Cossery, Mendigos e Altivos, Antígona, trad. Júlio Henriques, 2002.
sábado, 24 de março de 2012
A fallen wall
quinta-feira, 22 de março de 2012
Canto trigésimo segundo
quarta-feira, 21 de março de 2012
Dia dos poetas
(À Tatiana)
A obra de arte é de uma solidão sem fim, e nada está mais longe de tocá-la do que a crítica. Só o amor poderá compreender e sustentar e fazer justiça a uma obra de arte.
Ser artista é não calcular e não contar, é amadurecer como a árvore, que não comanda a seiva e que enfrenta tranquila as tempestades da Primavera sem recear que o Verão não chegue. O Verão chegará. Mas apenas para quem esperou pacientemente, para quem aqui permaneceu como se à sua frente se estendesse, sem cuidados, silenciosa e imensa, a eternidade.Rainer Maria Rilke, Cartas a um jovem poeta.
Trying to learn to use words, and every attempt
Is a wholy new start, and a different kind of failure
Because one has only learnt to get the better of words
For the thing one no longer has to say, or the way in which
One is no longer disposed to say it. And so each venture
Is a new beginning, a raid on the inarticulate,
With shabby equipment always deteriorating
In the general mess of imprecision of feeling,
Undiscipled squads of emotion.
T.S. Eliot, Four Quartets, East Coker, V.
O pintor Müller, na sua composição poética "O primeiro despertar de Adão e as suas primeiras noites ditosas" põe Deus a exortar o homem para que denomine, com as seguintes palavras: "Homem de terra, aproxima-te, torna-te mais perfeito na contemplação, torna-te mais perfeito através da palavra."
(...)
emana do poeta o conhecimento de que só a palavra, a partir da qual são criadas as coisas, permite ao homem a sua denominação, na medida em que ela, na diversidade das linguagens dos animais, ainda que mudas, se comunica na linguagem: Deus confere, progressivamente, aos animais, um sinal que os faz aparecer ao homem para que os denomine. De uma forma quase sublime verifica-se, deste modo, a comunidade linguística da criação muda com Deus na imagem do signo.
Walter Benjamin, Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política.
Pero la obra de un gran poeta o de un descubridor, la de un genio religioso o la de un filósofo genuino, no puede ser sino la verdadera expresión de su vida anímica; en la sociedad humana, tan llena de mendacidad, una obra semejante es siempre verdadera y, a diferencia de cualquier otra exteriorización en signos fijos, es apta para una interpretación completa y objetiva, y es ella la que arroja luz sobre los demás monumentos artísticos de una época y sobre las acciones históricas de los contemporáneos.
Whilhelm Dilthey, O Mundo Histórico.
La poésie est fondation de l'être par la parole. (...) Le dire du poète est fondation non seulement au sens d'une libre donation, mais également en ce sens qu'il assied et assure sur sa base l'être-là de l'homme.
M. Heidegger, Comentário à poesia de Hölderlin.
Não o que de resto é destino e cuidado do homem
Em casa ou sob o céu aberto
Ainda que mais nobremente do que os animais o homem
Se defenda e alimente! Pois é outra coisa que importa,
Confiada ao cuidado e ao serviço dos poetas.
O Altíssimo é a quem nós pertencemos
Para que mais próximo e sempre de novo cantado
O oiça o peito que o ama.
Hölderlin, Dichterberuf.
Prime!
... indo-se sentar na única cadeira que lhe mobilava o quarto. Afora ela, só ali havia um caixote virado, ostentando um fogareiro, mais uma cafeteira e uma bilha de água potável. Gohar vivia na mais estrita economia material. A noção do mais elementar conforto fora nele desde há muito banida da memória. Detestava ver-se rodeado de objectos; os objectos eram os receptáculos dos germes latentes da miséria, e da pior de todas, da miséria inanimada, essa que fatalmente engendra a melancolia por força da sua presença sem saída. Não que ele fosse sensível às aparências da miséria; a esta não reconhecia nenhum valor palpável, para ele constituía tão-só uma abstracção. Apenas desejava proteger o olhar de uma promiscuidade deprimente. O lado nu deste quarto tinha para Gohar a beleza do imperceptível, e ali respirava um ar de optimismo e liberdade. A maior parte dos móveis e dos objectos comuns eram a seus olhos um ultraje, por não poderem constituir alimento nenhum para a sua necessidade de fantasia humana. Só os seres, nas suas loucuras incontáveis, tinham para ele o dom da diversão.
Albert Cossery, Mendigos e Altivos, Antígona, trad. Júlio Henriques, 2002.
Jeff Wall, Insomnia.
terça-feira, 20 de março de 2012
Professor of Perjury??
segunda-feira, 19 de março de 2012
The Horses
I climbed through woods in the hour-before-dawn dark.
Evil air, a frost-making stillness,
Not a leaf, not a bird-
A world cast in frost. I came out above the wood
Where my breath left tortuous statues in the iron light.
But the valleys were draining the darkness
Till the moorline – blackening dregs of the brightening grey –
Halved the sky ahead. And I saw the horses:
Huge in the dense grey –ten together –
Megalith-still. They breathed, making no move,
With draped manes and tilted hind-hooves,
Making no sound.
I passed: not one snorted or jerked its head.
Grey silent fragments
Of a grey still world.
I listened in emptiness on the moor-ridge.
The curlew’s tear turned its edge on the silence.
Slowly detail leafed from the darkness. Then the sun
Orange, red, red erupted
Silently, and splitting to its core tore and flung cloud,
Shook the gulf open, showed blue,
And the big planets hanging –
I turned
Stumbling in a fever of a dream, down towards
The dark woods, from the kindling tops,
And came the horses.
There, still they stood,
But now steaming, and glistening under the flow of light,
Their draped stone manes, their tilted hind-hooves
Stirring under a thaw while all around them
The frost showed its fires. But still they made no sound.
Not one snorted or stamped,
Their hung heads patient as the horizons,
High over valleys, in the red levelling rays –
In din of the crowded streets, going among the years, the faces,
May I still meet my memory in so lonely a place
Between the streams and the red clouds, hearing curlews,
Hearing the horizons endure.
Ted Hughes, The Hawk in the Rain, Faber & Faber, 1972.
10.
sábado, 17 de março de 2012
Amo, volo ut sis
Hannah Arendt for Martin Heidegger:
For already early in her life, strangeness and tenderness threatened to become inseparable. Tenderness meant shy, reticent affection, not surrendering, but a probing that was caress, joy, and surprise at strange forms.
(...)
Her independence and idiosyncrasy were actually based in a true passion she had conceived for anything odd. Thus, she was used to seeing something noteworthy even in what was apparently most natural and banal; indeed, when the simplicity and ordinariness of life struck her to the core, it did not occur to her, upon reflection, or even emotionally, that anything she experienced could be banal, a worthless nothing that the rest of the world took for granted and that was no longer worthy of comment.
Martin Heidegger for Hannah Arendt:
Thank you for your letters - for how you have accepted me into your love - beloved. Do you know that this is the most difficult thing a human is given to endure? For anything else, there are methods, aids, limits, and understanding - here alone everything means: to be in one's love = to be forced into one's innermost existence. Amo means volo, ut sis, Augustine once said: I love you - I want you to be what you are.
Letters, 1925-1975, Hannah Arendt and Martin Heidegger, Andrew Shields (trad). Harcourt Books: 2004.
sexta-feira, 16 de março de 2012
Para não dizerem que não alimento os miúdos com cultura clássica
سادةُ "أُولِمْب" إلياذةَ الخالِدة
durará este cerco até deixarem
os senhores do Olympo de polir a Ilíada imortal
Tradução: André Simões
In this landscape
quarta-feira, 14 de março de 2012
"I enriched all my ideas with islands"
And I, I always arrive straight at absence. One sound makes the brook, and what I say, what I love remains untouched in its shadows. Innocences and pebbles in the depth of a translucency. Sensation of crystal.
-
When you flash in the sun that slides waterdrops and immortal hyacinths and silences on you, I name you the only reality. When you escape darkness and come again with the east, wellspring, bud, sunbeam, I name you the only reality. When you leave those who are assimilated into nonexistence and reoffer yourself as a human, I wake from the beginning with your change.
-
All that's left is for you to end up in the horizons.
(de The Concert of Hyacinths)
Odysséas Elytis, The Collected Poems, Nikos Sarris e Jeffrey Carson (trad.), The Johns Hopkins University Press, 1997.
The Hawk in the Rain
Heel after heel from the swallowing of the earth's mouth,
From clay that clutches my each step to the ankle
With the habit of the dogged grave, but the hawk
Effortlessly at height hangs his still eye.
His wings hold all creation in a weightless quiet,
Steady as a hallucination in the streaming air.
While banging wind kills these stubborn hedges,
Thumbs my eyes, throws my breath, tackles my heart,
And rain hacks my head to the bone, the hawk hangs,
The diamond point of will that polestars
The sea drowner's endurance: And I,
Bloodily grabbed dazed last-moment-counting
Morsel in the earth's mouth, strain to the master-
Fulcrum of violence where the hawk hangs still.
That maybe in his own time meets the weather
Coming the wrong way, suffers the air, hurled upside-down,
Fall from his eye, the ponderous shires crash on him,
The horizon trap him; the round angelic eye
Smashed, mix his heart's blood with the mire of the land.
Ted Hughes, The Hawk in the Rain, Faber & Faber, 1972.
Was heißt Denken?
Gonçalo M. Tavares, sobre João Barrento. (aqui) .
segunda-feira, 12 de março de 2012
Sorte pesada
domingo, 11 de março de 2012
XI
jogam ao suicídio. Por
partes avançam e suspendem
sábado, 10 de março de 2012
"Polvo serán, mas polvo enamorado"
- Olá.
Isto é a tua voz. Abro os olhos e os teus olhos estão aqui.
- Olá.
Isto é a minha voz.
E deslizas por mim abaixo.
-
A cama fica num canto, num aconchego. Estamos em cima da cama, ajoelhados, nus. Nunca tinha reparado como as tuas mãos são uma obra-prima. É a primeira vez que as vejo saírem assim dos braços, renascentistas, angulosas. Uma delas basta para me cobrir a cara, toco a polpa de cada dedo com a língua. A palma da outra está encostada a um mamilo. Movemo-nos lentamente sem uma palavra. É um silêncio estranho, de quem perdeu a fala ou sofre em silêncio.
Tu sofres em silêncio, eu perdi a fala.
Alexandra Lucas Coelho, E a noite roda, Edições tinta-da-china, Lisboa, 2012.
sexta-feira, 9 de março de 2012
Cineclube de Letras
Protogenes
quarta-feira, 7 de março de 2012
segunda-feira, 5 de março de 2012
XVIII
Like a sunken coal,
The heart would rest quiet,
The unrent soul
Be still as a veil;
But I have watched all night
The fire grow silent,
The grey ash soft:
And I stir the stubborn flint
The flames have left,
And grief stirs, and the deft
Heart lies impotent.
Philip Larkin, The North Ship, Faber & Faber, 1966.
XXVI
I have understood:
Time is the echo of an axe
Within a wood.
Philip Larkin, The North Ship, Faber & Faber, 1966.
domingo, 4 de março de 2012
V
sábado, 3 de março de 2012
'perhaps the very music that the dying Antony in Cavafy's poem heard'
Um acto de fé
(...) D. Quixote levantou a voz, e com um tom arrogante disse:
- Detenha-se toda a gente, se toda a gente não confessar que não há no mundo todo uma donzela mais formosa que a imperatriz da Mancha, a sem par Dulcineia do Toboso.
(…)
- Senhor cavaleiro, nós não conhecemos quem seja essa boa senhora que dizeis; mostrai-no-la: que se ela for de tão grande formosura como declarais, de boa vontade e sem constrangimento nenhum confessaremos a verdade que por vós nos é pedida.
- Se eu vo-la mostrasse – replicou D. Quixote – , que valor tinha confessar uma verdade tão evidente? A importância está em que, sem vê-la, o haveis de acreditar, confessar, afirmar, jurar e defender; se não, comigo travareis uma batalha, gente monstruosa e soberba.
Miguel de Cervantes, O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha, José Bento (trad), Relógio d'Água, 2005.