Mostrar mensagens com a etiqueta Leonard Cohen. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Leonard Cohen. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 23 de julho de 2013

A kite is a victim

A kite is a victim you are sure of.
You love it because it pulls
gentle enough to call you master,
strong enough to call you fool;
because it lives
like a trained falcon
in the high sweet air,
and you can always haul it down
to tame in your drawer.

A kite is a fish you have already caught
in a pool where no fish come,
so you play him carefully and long,
and hope he won't give up,
or the wind die down.

A kite is the last poem you have written,
so you give it to the wind,
but you don't let it go
until someone finds you
something else to do.

A kite is a contract of glory
that must be made with the sun,
so you make friends with the field
the river and the wind,
then you pray the whole cold night before,
under the traveling cordless moon,
to make you worthy and lyric and pure.

Leonard Cohen in The Spice-Box of Earth, Strange Music, Jonathan Cape, 1993

segunda-feira, 22 de julho de 2013

3 Poemas de «Deixa-nos Comparar Mitologias» de Leonard Cohen


Fotografia de Lindsay Bottos-Sewell

POEMA

Falaram-me de um homem
que diz palavras tão belamente
que basta pronunciar-lhes o nome
para as mulheres se lhe entregarem.

Se é mudo que estou ao lado do teu corpo
enquanto como tumores o silêncio floresce nos nossos lábios
é porque oiço um homem subir as escadas
e aclarar a garganta à nossa porta.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Argos

Tive em tempos um conto preferido. Era aquele de Borges: «A cidade dos imortais». Plotline: um Romano, ao fim de muito tempo perdido em buscas, chega a uma cidade que é povoada por imortais, lá, um imortal segue-o para toda a  parte. Ligeiramente incomodado pela presença, sempre silenciosa, o homem dá-lhe o nome de Argos, como o cão de Ulisses na Odisseia. Um dia, já não me lembro porquê, Argos resolve fugir. O Romano persegue-o, gritando: «Argos, Argos, Argos, volta.» Ao que o imortal responde qualquer coisa como: «Raios, homem, porque me chamas Argos? Foi há tanto tempo já que escrevi a Odisseia
A princípio, gostava deste conto por causa da adrelina da revelação: Argos é Homero e é como se o Romano fosse trespassado por aquela revelação. Há uns tempos tentei, nem sei porquê, recordar-me de todo o argumento do conto. Mas a única coisa que me ficara tinha sido só isto, esta frase final. Mas agora já não a vejo só do ponto de vista do espanto, do espectacular, ou seja, do ponto de vista do Romano. Agora posso pensar o desencanto de Argos. Naquele momento em que ele se vira para trás e diz: «Porque me chamas Argos? Foi há tanto tempo já escrevi a Odisseia.» é como se dissesse que até essa tarefa, a do poema, se perde para sempre no tempo, ou para quem a empreendeu, de nada vale passado um tempo. A Odisseia é uma vaga e cinzenta memória para um homem de mãos cinzentas que acaba a ser chamado Argos quando em tempos se chamou Homero. E tal é o tempo. Mas permanece para o outro o trespasse dessa revelação. O que me faz pensar em outra coisa, numa conferência dada em tempos por Borges e que ficou compilada no livro Este Ofício de Poeta, em que ele fala da imortalidade do canto, porque pensa que a ficção existirá sempre e prevê que, ainda que morra o romance, o conto continue a existir, de forma análoga aos cantares dos aedos na Grécia. E tudo isto me lembrou Leonard Cohen e uma entrevista dada à CBS (salvo erro em 1964), em que ele dizia que não lhe importava nada saber se o que estava a escrever ia durar ou não, se ia ser aclamado ou não, deixando implícito que precisava apenas de o fazer. A dissociação é afinal a mesma do Argos de Borges: «quanto tempo? muito. inúmero. podemos apenas vivê-lo, não ver para além dele.»

quarta-feira, 24 de março de 2010

What did it

An acquaintance told me
that the great sage
Nisargadatta Maharaj
once offered him a cigarette,
"Thank you, sir, but I don't smoke."
"Don't smoke?" said the master,
....."What's life for?"

Um conhecido meu disse-me
que o grande sábio
Nisargadatta Maharaj
lhe ofereceu uma vez um cigarro,
"Obrigado, senhor, mas não fumo."
"Não fuma?", disse o mestre,
....."Para que serve a vida?"

Leonard Cohen, Livro do Desejo, edições quasi, Vila Nova de Famalicão, 2008 (trad. de Vasco Gato)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Leonard Cohen, "Take This Longing"



Many men have loved the bells
you fastened to the rein,
and everyone who wanted you
they found what they will always want again.
Your beauty lost to you yourself
just as it was lost to them.
Oh take this longing from my tongue,
whatever useless things these hands have done.
Let me see your beauty broken down
like you would do for one you love.
Your body like a searchlight
my poverty revealed,
I would like to try your charity
until you cry, Now you must try my greed.
And everything depends upon
how near you sleep to me
Just take this longing from my tongue
all the lonely things my hands have done.
Let me see your beauty broken down
like you would do for one your love.
Hungry as an archway
through which the troops have passed,
I stand in ruins behind you,
with your winter clothes, your broken sandal straps.
I love to see you naked over there
especially from the back.
Oh take this longing from my tongue,
all the useless things my hands have done,
untie for me your hired blue gown,
like you would do for one that you love.
You're faithful to the better man,
I'm afraid that he left.
So let me judge your love affair
in this very room where I have sentenced
mine to death.
I'll even wear these old laurel leaves
that he's shaken from his head.
Just take this longing from my tongue,
all the useless things my hands have done,
let me see your beauty broken down,
like you would do for one you love.
Like you would do for one you love.

Leonard Cohen, "Take this Longing"