Você parece-me - disse Fearmax - demasiado categórico. Tem, decerto razão quando diz que todos nós atravessamos vários estados, procurando pôr de parte os nossos aspectos negativos, as nossas imperfeições. Mas poderá haver um momento em que nos seja dado saber que a nossa busca terminou? A verdade é que a consciência pessoal da iluminação de que você fala não basta para nos garantir que atingimos, não sei como hei-de dizer, "O Absoluto", "Deus", o "Tao". Pelo contrário, a nossa crescente tomada de consciência impele-nos a continuar a procurar. Penso que o ser humano em que você gostaria de se transformar deverá ser mais humilde, uma atitude menos afirmativa, uma espécie de maior passividade perante o processo de tudo o que acontece, ainda que creia estar sentado em cima de uma bomba atómica. Bem vê: o sábio nada tem a dizer-nos. É do seu silêncio que deduzimos a sua existência.
Lawrence Durrell, The Dark Labyrinth, Miguel Serras Pereira (trad.), Ulisseia, 2003.
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