sábado, 3 de março de 2012

Um acto de fé

(...) D. Quixote levantou a voz, e com um tom arrogante disse:

- Detenha-se toda a gente, se toda a gente não confessar que não há no mundo todo uma donzela mais formosa que a imperatriz da Mancha, a sem par Dulcineia do Toboso.

(…)

- Senhor cavaleiro, nós não conhecemos quem seja essa boa senhora que dizeis; mostrai-no-la: que se ela for de tão grande formosura como declarais, de boa vontade e sem constrangimento nenhum confessaremos a verdade que por vós nos é pedida.

- Se eu vo-la mostrasse – replicou D. Quixote – , que valor tinha confessar uma verdade tão evidente? A importância está em que, sem vê-la, o haveis de acreditar, confessar, afirmar, jurar e defender; se não, comigo travareis uma batalha, gente monstruosa e soberba.


Miguel de Cervantes, O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha, José Bento (trad), Relógio d'Água, 2005.

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