segunda-feira, 12 de março de 2012

Sorte pesada

E então o mais velho dos comandantes
das naus dos Aqueus,
não recriminando adivinho algum,
conspirou com a sorte que o feria,
enquanto a demora devorava as provisões
e oprimia a multidão aqueia,
acampada defronte de Cálcis,
nas costas de Áulis, onde a rebentação ruge continuamente;

os ventos que do Estrímon sopravam
um tédio nefasto, a má ancoragem,
o desvario dos homens, não poupando naus nem amarras,
tornavam a espera duplamente longa,
com o desgaste consumindo
a flor dos Argivos; e quando um outro
remédio mais pesado
do que a amarga tempestade o adivinho proferiu
aos primeiros do exército
declarando Ártemis responsável, então, batendo com os ceptros,
no solo, os Atridas
não contiveram as lágrimas,

e o mais velho dos chefes ergueu a voz para falar:
«Sorte pesada é não obedecer,
pesada também se esquartejar a minha filha, jóia do meu lar,
manchando as mãos paternas
na corrente do sangue de uma donzela imolada
junto do altar. Qual destas está isenta de mal?
Como me hei-de eu tornar um desertor das naus
falhando para com a aliança?

Ésquilo, Agamémnon, vv. 184-214, José Pedro Moreira (trad.), Edições Artefacto, 2012.

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