Por vezes, diante de certos poemas, parece-me que ecoam aquela pergunta insistente que Elytis faz em To Monogramma (salvo erro, na Tempestade há um passo em que Próspero pergunta o mesmo a Miranda insistentemente e parece não fazer sentido), esse «ouves-me» que chega de uma distância de coisas e tempo e que quando nos encontra significa. Muitos poemas são só isso uma forma de «ouves-me». Talvez por isso Paul Celan diga em Arte Poética - Meridiano e Outros Textos que não há grande diferença de princípio entre um aperto de mão e um poema. A voz interior que fende a distância e serve o sentido do toque quando te diz alguma coisa - no meio há esta falha de comunicação de que nunca nenhum de nós estará certo, o que, por uma quase falácia, talvez demonstre que a poesia é uma forma de caminhar sobre o abismo e daí o ouves-me hesitante, modo de tactear o escuro.
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