sábado, 25 de junho de 2011

Fórmulas





















A mim assalta-me a ideia de que secretamente persigo a história do meu medo. Ou melhor, a história da sua erupção, mais exactamente ainda: da sua libertação. É verdade, também o medo pode ser libertado, e aí é que se vê como todo ele é indissociável de todos os oprimidos. A filha do rei não tem medo, pois medo é fraqueza, e a fraqueza combate-se com um treino férreo. A louca tem medo, está louca de medo. Da prisioneira espera-se que tenha medo. A mulher livre aprende a acabar com os medos que não são importantes e a não recear o grande e importante medo, porque já não é tão orgulhosa que o partilhe com outros. - Enfim, fórmulas.

Christa Wolf, Cassandra, João Barrento (trad.), Livros Cotovia, 1989.

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