Uma arte
A arte de perder não é difícil de dominar;
tantas coisas parecem repletas da intenção
de serem perdidas que a sua perda não é desastre.
Perde alguma coisa a cada dia. Aceita a agitação
de chaves de casa perdidas, a hora mal gasta.
A arte de perder não é árdua de dominar.
Pratica em seguida perder mais longe, perder mais rápido;
lugares, e nomes, e o sítio para onde tencionavas
viajar. Nada disto será desastre.
Perdi o relógio de minha mãe. E olha! a última, ou
quase última, de três moradas amadas que me pertenceram perdeu-se.
A arte de perder não é árdua de dominar.
Perdi duas cidades, cidades amáveis. E, mais vasto,
alguns países que foram meus, dois rios, um continente.
Sinto-lhes a falta. Mas não foi um desastre.
- Mesmo ao perder-te (a voz que graceja, um gesto
que amo) não devo mentir. É evidente
que a arte de perder não é muito árdua de dominar
ainda que possa parecer um (escreve-o!) um desastre.
Elizabeth Bishop, Geography III, 1976. Tradução minha.
Sem comentários:
Enviar um comentário