sábado, 9 de abril de 2011

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Porque uma estúpida (instintiva, anterior à inteligência) vontade nos une a tudo o que nos prende (porque como dizia Calasso tudo o que nos prende é um laço), quando morrer farei como Sophia, e voltarei aqui para reclamar todos os instantes que não vivi junto do mar. Não tanto por estúpida teimosia quanto por uma ideia de plenitude imperfeita, que me liga aos lugares, às pessoas que amo, com uma ternura um pouco dilacerada, solene no sentido de leal e não no sentido de chata, insone, quase triste às vezes porque a sei condenada.
Nesta teimosia e sentido de plenitude imperfeita, aquilo que de outra forma fez Agustina escrever que a poesia é a mais estranha das actividades humanas porque é a única que é consagrada ao conhecimento da morte (aquilo que às vezes te dá a impressão que vais a andar e podias de repente sair do teu corpo, encarares-te de frente e dizeres não importa, porque eu sou do mundo e o mundo é meu, aquele que se contém nas paredes da minha vida), esse sentido de teimosia e compromisso, plenitude imperfeita, é também o que coloca a poesia um instante antes da inteligência, é o que a afasta para sempre da retórica, é o que lhe permite passar para outros géneros e sobretudo para o mais literário dos géneros, a vida.

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