segunda-feira, 25 de abril de 2011

Heart of experience

In the harbour of Alexandria the sirens whoop and wail. The screws of ships crush and cruch the green oil-coated waters of the inner bar. Idly bending and inclining, effortlessly breathing as if in the rythm of the earth's own systole and diastole, the yachts turn their spars against the sky. Somewhere in the heart of experience there is an order and a coherence which we might surprise if we were attentive enough, loving enough, or patient enough. Will there be time?

Lawrence Durrell, The Alexandria Quartet, Faber & Faber, 2009

***

Queria falar sobre esta meia-dúzia de linhas, sobretudo das últimas. Desta coisa que é um homem muito distraidamente observar navios na barra de um porto e disto chegar à vida. Sempre pensei que a vida é aquilo com que nos encontramos do outro lado do espelho de um livro. A vida com todas as coisas que nela se contêm. O ritmo de respiração que Durrell imprime ao planar dos navios sobre a água é coisa que se vai encontrar inevitavelmente com a noção de que algures no coração da experiência (i.e.: todas as coisas em que acontecemos e as que nos acontecem) há uma ordem, uma coerência (não algo que faça as coisas fazerem sentido, The Alexandria Quartet até aqui parece ser o romance da errância, do sem sentido) que talvez possamos surpreender, ser surpreendidos por.
Ou seja, nas palavras de Durrell, para mim, fica implícito o que é olharmos de determinado ponto no tempo para a vida e ver que ela é uma trama, a história que escrevemos, que a cada passo guardamos connosco, esses diários que teimosamente vais escrevendo ou simplesmente a memória (por isso estou convencida que a vida é o mais literário dos géneros e não por um sentido de repugnante imitatio vitae que pudesse servir a gabarolice idiota de a estar escrevendo para alimentar o egozinho e aquilo com que nos pudemos ou queremos parecer quando nos expomos, nos partilhamos ou nos vendemos a outros, com outros).
Esta ordem que há na vida, só a surpreenderemos, diz Durrell, se formos suficientemente atentos, suficientemente amáveis ou suficientemente pacientes. Todas estas coisas são espaços de silêncio, onde crescemos por combate, em agonia. Por vezes não há tempo, é coisa que não se alcançará. Mas Durrell não se pergunta se o alcançará, pergunta se terá tempo, porque ele sabe que está en train de.
Pensei depois que esta visão de uma ordem e coerência que está no coração da experiência é uma coisa que só as palavras (partindo do princípio que é por palavras que pensamos) podem iluminar, se alguma vez pudermos ver essa ordem, essa coerência que está nas coisas (que intuo não sei porquê que até pode ser sem redenção, esta espécie de coisa que um corredor de longa distância correndo contra outro e perdendo recebe sem consolo mas reconhece como se fosse justa derrota, ordem de coisas) será no espaço silencioso em nós do que podemos intuir nos outros, ler nos outros e isso é literatura.
É por isso que uma páginas mais à frente Durrell escreve: I see now that what we found enigmatic about the man was due to a fault in ourselves. Mas quando ele diz de Pursewarden que ele é a man tortured beyond endurance by the lack of tenderness in the world, ele exclui a possibilidade de Pursewarden ter visto essa ordem que está no coração da experiência ou está a minar o seu próprio raciocínio? Porque a meu ver (não me interessa estar para aqui a palrar sobre o porquê, mas digamos que a trama da vida não existe sem os outros e a tenderness não existe sem o número dois) são coisas demasiado próximas para serem pensadas isoladamente.

Sem comentários:

Enviar um comentário