quarta-feira, 13 de abril de 2011

a rua das musas

Numa palavra, o que eu desejaria (porque gosto de ser franco em assuntos de tanta importância para o meu País) é que se algumas travessas e becos desta cidade fossem transformados, a expensas do público, em aposentos das musas (como em Roma e Amesterdão existem as ruas das mulheres), reservados aos nossos belos talentos e guarnecidos do necessário: autores, revisores, tipografias, impressores, vendilhões, lojas e armazéns, abundância de águas-furtadas e outros instrumentos e acessórios do espírito. A vantagem disto seria, é evidente, passarmos a ter um repositório seguro para as nossas melhores produções, que passam hoje de mão em mão em simples folhas impressas ou manuscritas, com o risco de se perderem (o que seria forte pena) ou, pelo menos, de se verem sujeitas, tal o seu desnudamento, a sofrer, como as mulheres belas, os mais graves insultos.

Jonathan Swift, «Carta de Aviso a um Jovem Poeta», Preceitos para Uso do Pessoal Doméstico e Outros Textos, tradução de João Fonseca Amaral, Editorial Estampa, Lisboa, 1986

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