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quarta-feira, 13 de abril de 2011

a rua das musas

Numa palavra, o que eu desejaria (porque gosto de ser franco em assuntos de tanta importância para o meu País) é que se algumas travessas e becos desta cidade fossem transformados, a expensas do público, em aposentos das musas (como em Roma e Amesterdão existem as ruas das mulheres), reservados aos nossos belos talentos e guarnecidos do necessário: autores, revisores, tipografias, impressores, vendilhões, lojas e armazéns, abundância de águas-furtadas e outros instrumentos e acessórios do espírito. A vantagem disto seria, é evidente, passarmos a ter um repositório seguro para as nossas melhores produções, que passam hoje de mão em mão em simples folhas impressas ou manuscritas, com o risco de se perderem (o que seria forte pena) ou, pelo menos, de se verem sujeitas, tal o seu desnudamento, a sofrer, como as mulheres belas, os mais graves insultos.

Jonathan Swift, «Carta de Aviso a um Jovem Poeta», Preceitos para Uso do Pessoal Doméstico e Outros Textos, tradução de João Fonseca Amaral, Editorial Estampa, Lisboa, 1986

segunda-feira, 11 de abril de 2011

o ofício da musa

Enfim, será da maior sabedoria começar por conseguir, a tempo, um bom ofício para a sua musa, de acordo com a habilidade e aptidões dela: pode ser leiteira, cozinheira, ou mulher a dias; quero dizer, alugar a pena a um partido que lhe garanta salário e protecção; e quando se tratar da saída de um livro seu (como isso demorará) arranje um daqueles amigos importunos que lhe arranque as produções com simpática violência; as quais, de acordo com o combinado, deverá entregar «digito male pertinaci»: é uma atitude decente, como prova de modéstia, porque convém tanto a um autor tomar parte na publicação das suas obras como a uma mulher, em trabalhos de parto, desembaraçar-se sozinha.

Jonathan Swift, «Carta de Aviso a um Jovem Poeta», Preceitos para Uso do Pessoal Doméstico e Outros Textos, tradução de João Fonseca Amaral, Editorial Estampa, Lisboa, 1986

sábado, 9 de abril de 2011

o sacerdócio da poesia

Na verdade, como outrora ser poeta e sacerdote eram uma e a mesma função, a aliança desses ministérios mantém-se, felizmente, nas mesmas pessoas; esta, suponho, a única razão defensável para o chamamento que eles tanto prezam, quero dizer, o modesto título de «divino poeta». Seja como for, por jamais ter assistido a uma cerimónia de ordenação no sacerdócio da poesia, confesso não ter a menor ideia da coisa, pelo que nada mais posso dizer aqui.

Jonathan Swift, «Carta de Aviso a um Jovem Poeta», Preceitos para Uso do Pessoal Doméstico e Outros Textos, tradução de João Fonseca Amaral, Editorial Estampa, Lisboa, 1986