segunda-feira, 11 de abril de 2011

o ofício da musa

Enfim, será da maior sabedoria começar por conseguir, a tempo, um bom ofício para a sua musa, de acordo com a habilidade e aptidões dela: pode ser leiteira, cozinheira, ou mulher a dias; quero dizer, alugar a pena a um partido que lhe garanta salário e protecção; e quando se tratar da saída de um livro seu (como isso demorará) arranje um daqueles amigos importunos que lhe arranque as produções com simpática violência; as quais, de acordo com o combinado, deverá entregar «digito male pertinaci»: é uma atitude decente, como prova de modéstia, porque convém tanto a um autor tomar parte na publicação das suas obras como a uma mulher, em trabalhos de parto, desembaraçar-se sozinha.

Jonathan Swift, «Carta de Aviso a um Jovem Poeta», Preceitos para Uso do Pessoal Doméstico e Outros Textos, tradução de João Fonseca Amaral, Editorial Estampa, Lisboa, 1986

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