sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ténis




























Ontem, no treino de ténis (é verdade eu não passo só os dias em frente ao computador a fazer traduções de grego intervaladas por posts neste blogue e a adquirir o que um amigo meu em tempos canonizou na fórmula bronzeado de biblioteca), tive a estúpida sorte de fazer dois pontos a um tipo que é muito melhor jogador do que eu. O rapaz está ciente da sua superioridade, eu também e nunca nenhum de nós se tinha chateado com isso. Mas ontem com os dois pontos o tipo perdeu a cabeça e ao segundo ponto vira-se do fundo do court e diz: bem, que kaga.
E eu tenha a certeza que ele disse kaga com kapa porque foi uma coisa com um tremor de lábios e um encolher de frustração quase adolescente. Eu estava tão chateada que a minha primeira reacção foi replicar-lhe em adolescente jargão, vai apanhar morangos, amigo. E não propriamente apanhar morangos. Mas depois sou arrebatada por este momento de estúpida melancolia. Estou a bater a bola para o ponto seguinte e penso, bom, isto é a vida. Vais passar a vida a apanhar com bolas que não terás como bater em resposta, bolas que mesmo que as tenhas batido como devias vão morrer na rede, vais passar a vida a correr para bolas que morrerão à tua frente num último embate seco no chão, all the world is a stage dizia Shakespeare, mas Shakespeare nunca tinha visto um jogo de ténis, porque se o mundo inteiro é um palco, ele poderia ter dito, a vida inteira é um jogo de ténis.
Perdi o ponto seguinte e o jogo, o que me chateia à brava (há na minha turma um tipo que é o Mercúcio, perder com o Mercúcio não me chateia, mas este rapaz é um Iago e chateia-me saber que o Iago sentiu que lhe tinha sido feita justiça ao derrotar-me, a mim que não sou par para ele, talvez para uma ovelha munida de uma raquete, mas não para ele), o mundo tornou a fazer-lhe sentido. E quando não fizer?

Sem comentários:

Enviar um comentário