domingo, 17 de abril de 2011

Paulo Tavares: «um e-mail sem resposta»

Reproduzo um e-mail de Paulo Tavares para Francisco Vale, editor da Relógio d'Água, publicado originalmente aqui. Estas situações não são invulgares com a editora em questão. Sei-o por experiência própria. Não são, também, exclusivas da editora em questão, sendo estranhamente vulgares no panorama editorial português.

Caro Francisco Vale,

No final de Março de 2010, um ano depois de eu ter deixado um original de poesia na Relógio d’Água, e depois de um período de seis meses em que fiz vários telefonemas para tentar obter uma resposta vossa, o senhor ligou-me, dizendo que o original lhe tinha suscitado interesse, mas que, em virtude do excesso de publicações para aquele período, só em Setembro desse ano poderíamos combinar a publicação do original em questão. Ficou o Francisco Vale de me contactar em Setembro, para combinarmos uma reunião.

No entanto, em Setembro não me ligou. No final de Outubro, liguei eu para a Relógio d’Água. De lá até ao presente mês (estamos em Abril, tendo passado mais de dois anos desde que vos entreguei o original), foi seguramente mais de uma dezena de vezes aquelas em que tentei entrar em contacto com o senhor, pois, segundo me informaram, era a única pessoa que me poderia dizer alguma coisa. A sua secretária, sempre lacónica, foi-me dizendo que o Francisco Vale me ligaria de volta nesse dia ou no dia a seguir, sem que tal alguma vez se tivesse vindo a verificar. Deixei-vos o meu contacto também em diversas circunstâncias. Neste largo período, passei duas ou três vezes pela Relógio d’Água, uma dela com o senhor nas instalações, tendo-me sido dito que não me poderia receber, mas que me ligaria ainda nesse dia. Perpetuando o absurdo, nunca me chegou a ligar. Julgo que estaria à espera que eu ganhasse alguma percepção do ridículo da situação e nunca mais vos incomodasse.

Acontece, Francisco Vale, que o incómodo é todo meu. Se continuei a telefonar para a RA e a insistir numa resposta, foi porque considero que todo o autor a merece (já nem digo no máximo de seis meses, como o senhor escreveu algures), independentemente de ser positiva ou negativa, e porque julgo não ser pedir muito o brio profissional e algum sentido de responsabilidade. Talvez as pessoas se resignem com a falta de resposta de editoras ditas de referência como a do senhor (que advoga uma coisa em livros e artigos e depois pratica outra) e acabem por desistir de obter um feedback junto delas, achando que tal é “normal”, ou que o problema fundamental reside nas suas próprias obras, e, infelizmente, contribuindo também assim para a naturalização deste tipo de comportamento.

Mais do que repúdio, Francisco Vale, é decepção aquilo que sinto em relação à Relógio d’Água e ao senhor. E, dito isto, tendo numa das últimas vezes que telefonei para a vossa editora solicitado a devolução do original, continuo sem um contacto da sua parte que me explique e justifique a passagem de um interesse de publicação a uma total ausência de resposta, explicação essa que julgo fundamental para encerrar este caso.

Sem mais, subscrevo-me,

Cordialmente,

Paulo Tavares

Sem comentários:

Enviar um comentário