sábado, 28 de agosto de 2010

Tinha febre mesmo...

Vamos então padecer
com os pés no tecto
do vão do quarto-mansarda
e um toque pulmonar
para garantir legenda
tão nobre!

Tácito: estreptomicina
em que ninguém acredita
senão pelo telefone
quando um amigo nos confirma
a cura.

Lendo Selma Lagerloff,
acredito em tudo,
mesmo no médico.
Acredito, sobretudo,
nos patecos a voar
e num miúdo chamado
Nils Holgerson.

Vamos repousar
contando as tábuas do tecto
plano inclinado.
Pode ser que chova
e o dilúvio inunde
o meu quarto.

Com estreptomicina e Selma
os tempos mudam por certo.
Tácito: tábuas do tecto
quando naufragar.

Ruy Cinatti, Tempo da Cidade, Colecção Forma, Editorial Presença, 1996.

2 comentários:

  1. Não conhecia este poema e tcou-me de maneira especial porque é mesmo de Selma Lagerloff que vem o meu nick. Não quis deixar de o dizer.

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  2. É um belo poema. Gosto do contraste com Tácito, que é um autor de que gosto muito, embora perceba por que se «irrita» Cinatti com ele. Selma Lagerloff ainda não li, mas tenho o livro algures. Está em lista de espera.

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