segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Goya

Eu - Goya
a quem o inimigo alcançou junto à cratera
em voo na direcção do campo perdido.

Eu - O Desgosto.

Eu - garganta da guerra,
nas principais cidades
no Inverno de 1941.

Eu - A Fome.

Eu - o pescoço
da mulher enforcada cujo corpo balouça
como um sino na praça vazia.

Eu - Goya.

Ó uvas da punição!
Apontei, viril, para Ocidente -
sou as cinzas de quem não foi convidado!
Nas tábuas do céu preguei estrelas duras -
duras como pregos.

Eu - Goya.

1959

Andrei Voznessenski, Antimundos, Cadernos de Poesia 12, Tradução de Clara Schwarz da Silva, Versão de Armando da Silva Carvalho, Publicações Dom Quixote, 1970.

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