Se ‘Ítaca’ é ponto de partida, de chegada, ou iluminadora metáfora da própria viagem, eis o que pode ser fútil querer averiguar. Pelos trilhos estéticos e ensaísticos que parecem apostados em sulcar, estes «cadernos de ideias, textos e imagens» surgem como um projecto a seguir com atenção. A esse respeito, convém assinalar a interessante interacção suscitada entre linguagem icónica e verbal ao longo das suas páginas.
As rubricas cobrem áreas como a poesia, original e em tradução, o ensaio e a narrativa. Embora o ponto forte da revista não se situe na poesia – as páginas mais fortes são as consagradas ao ensaio –, é possível resgatar alguns versos mais impressivos de Luís Filipe Nunes, por uma certo domínio no manejo da imagem e do verso – «O dia está em derrocada,/ dentro em breve o desabamento será total» – e de Tatiana Faia, mercê de uma contenção prosódica, um estro classicizante, sem excessivas mesuras – «veio o deus e pousa a mão no teu ombro/ brinca ensaia a sombra perto/ segreda-te uma promessa ao ouvido/ um eco lento/ que repete uma voz de água/ mas ficas só e de vidro quando te espelhas/ na proximidade vaga dos corpos». Merecem referência as traduções de Catulo, a cargo de J.P. Moreira – às quais, queiram os fados, poderá juntar-se o restante ‘corpus’ catuliano, numa integral que se espera não leve muito a ver a luz do dia –, o trabalho de André Simões, com poetas árabes, como Adónis ou Mahmud Darwîsh, ou os poemas de Quasimodo, em tradução de Miguel João Ferreira. Atente-se nas curiosas micro-narrativas de Luís Ene e na sólida ficção de Rui Manuel Amaral. Refira-se o estudo de José Pedro Serra, uma detida consideração da palavra, nas suas incidências e repercussões, como veio do devir histórico, leito da cultura, motor de infinitos ecos. De notar, o extenso ensaio de Fernanda Gil Costa, que, «a propósito de ‘As Benevolentes’ de J. Littell», assina uma poderosa incursão na questão do mal, estanciando em obras como as de Coetzee ou Don DeLillo.
Texto de Hugo Pinto Santos
As rubricas cobrem áreas como a poesia, original e em tradução, o ensaio e a narrativa. Embora o ponto forte da revista não se situe na poesia – as páginas mais fortes são as consagradas ao ensaio –, é possível resgatar alguns versos mais impressivos de Luís Filipe Nunes, por uma certo domínio no manejo da imagem e do verso – «O dia está em derrocada,/ dentro em breve o desabamento será total» – e de Tatiana Faia, mercê de uma contenção prosódica, um estro classicizante, sem excessivas mesuras – «veio o deus e pousa a mão no teu ombro/ brinca ensaia a sombra perto/ segreda-te uma promessa ao ouvido/ um eco lento/ que repete uma voz de água/ mas ficas só e de vidro quando te espelhas/ na proximidade vaga dos corpos». Merecem referência as traduções de Catulo, a cargo de J.P. Moreira – às quais, queiram os fados, poderá juntar-se o restante ‘corpus’ catuliano, numa integral que se espera não leve muito a ver a luz do dia –, o trabalho de André Simões, com poetas árabes, como Adónis ou Mahmud Darwîsh, ou os poemas de Quasimodo, em tradução de Miguel João Ferreira. Atente-se nas curiosas micro-narrativas de Luís Ene e na sólida ficção de Rui Manuel Amaral. Refira-se o estudo de José Pedro Serra, uma detida consideração da palavra, nas suas incidências e repercussões, como veio do devir histórico, leito da cultura, motor de infinitos ecos. De notar, o extenso ensaio de Fernanda Gil Costa, que, «a propósito de ‘As Benevolentes’ de J. Littell», assina uma poderosa incursão na questão do mal, estanciando em obras como as de Coetzee ou Don DeLillo.
Texto de Hugo Pinto Santos
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