que, embora triste, tão suave desce
para nós, os vivos, com a luz lívida
que se cola ao bairro na penumbra.
E o transforma. Torna-o maior, mais vazio,
em redor, e, mais ao longe, faz despertar
a raiva de uma vida que do rouco
rolar dos eléctricos, dos gritos humanos,
dialectais, faz um concerto turvo
e absoluto. E sente-se que, naqueles seres
vivos que, ao longe, gritam, riem,
nos seus veículos, nos míseros
casarios onde se consome o falso
e expansivo dom da existência -
a vida não é senão um frémito;
(...)
Pier Paolo Pasolini, Poemas, Margarida Jorge Vilar de Figueiredo (trad.), Assírio e Alvim, 2005.
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