quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A pior inimiga das minhas canetas

Eu tinha comprado uma austera Pelikan, pequena, toda negra, bela em sua severidade. Estava então no meu segundo ano de faculdade. Era leve e equilibrada. Foi relativamente barata. Nunca a tinta acumulada lhe perturbou o fluxo. Usava-a em todos os testes. E era feliz com ela, tanto quanto se pode ser com uma caneta. Mas depois veio como estrangeira residente para nossa casa esta menina:


Certo dia, depois de ser, durante horas, sovado pela sintaxe de Cícero, deixei a caneta em cima da secretária e desci para comer qualquer coisa. Quando voltei estava a Sara — é o nome do adorável diabrete felino — deitada na secretária. A caneta estava no chão, irreparavelmente danificada. Durante o luto assistiu-me uma velha dona Parker. Era uma espécie de viúva desgraciosa, áspera e rabugenta, mas que nunca nos deixava ficar mal. Resgatei-a ao meu avô por troca com uma reles Waterman, oferecida por um remoto amigo de família, que assim se desobrigou de mais uma prenda numa daquelas alturas do ano em que prendas devem ser oferecidas — enfim, uma intrujice maior ainda do que a troca de armas entre Diomedes e Glauco.

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