Uns livros que precisei de ler para a tese fizeram-me pegar neste livro alguns anos depois e ver que o tinha deixado cheio de post its. Uma coisa que há quatro anos atrás marquei neste livro:
Não me peças que te faça uma panorâmica da crítica de arte grega de Platão a Plotino. A noite é demasiado bela para isso e, se a lua nos ouvisse, carregaria a cara de mais cinzas do que as que já tem. Lembra-te só de uma pequena obra de crítica estética perfeita, o Tratado de Poesia de Aristóteles. Não é perfeito na forma, pois está mal escrito, consistindo talvez de notas escritas para uma lição sobre arte, ou de fragmentos isolados para alguma obra maior, mas no tratamento e na composição é absolutamente perfeito. O efeito ético da arte, a sua importância para a cultura e o seu lugar na formação do carácter tinham sido tratados de uma vez por todas por Platão; mas aqui vemos a arte tratada não de um ponto de vista moral, mas de um ponto de vista exclusivamente estético. Platão tinha, é claro, abordado muitos assuntos estritamente artísticos, tais como a importância da unidade numa obra de arte, a necessidade da harmonia e do tom, o valor estético das aparências, a relação das artes visíveis com o mundo exterior e a relação da ficção com os factos. Foi talvez ele o primeiro a agitar na alma do homem aquele desejo que não satisfizemos ainda, o desejo de conhecer a ligação entre a Beleza e a Verdade na ordem moral e intelectual do Cosmos. Os problemas do idealismo e do realismo, tal como os expõe, poderão parecer relativamente estéreis de resultado no domínio metafísico do ser abstracto em que os coloca, mas, se os transferires para a esfera da arte, verás como são ainda vitais e plenos de sentido. Talvez seja como crítico da Beleza que Platão esteja destinado a viver (...)
Oscar Wilde, Intenções: Quatro Ensaios Sobre Estética, António M. Feijó (trad.), Livros Cotovia, 1993.
Não me peças que te faça uma panorâmica da crítica de arte grega de Platão a Plotino. A noite é demasiado bela para isso e, se a lua nos ouvisse, carregaria a cara de mais cinzas do que as que já tem. Lembra-te só de uma pequena obra de crítica estética perfeita, o Tratado de Poesia de Aristóteles. Não é perfeito na forma, pois está mal escrito, consistindo talvez de notas escritas para uma lição sobre arte, ou de fragmentos isolados para alguma obra maior, mas no tratamento e na composição é absolutamente perfeito. O efeito ético da arte, a sua importância para a cultura e o seu lugar na formação do carácter tinham sido tratados de uma vez por todas por Platão; mas aqui vemos a arte tratada não de um ponto de vista moral, mas de um ponto de vista exclusivamente estético. Platão tinha, é claro, abordado muitos assuntos estritamente artísticos, tais como a importância da unidade numa obra de arte, a necessidade da harmonia e do tom, o valor estético das aparências, a relação das artes visíveis com o mundo exterior e a relação da ficção com os factos. Foi talvez ele o primeiro a agitar na alma do homem aquele desejo que não satisfizemos ainda, o desejo de conhecer a ligação entre a Beleza e a Verdade na ordem moral e intelectual do Cosmos. Os problemas do idealismo e do realismo, tal como os expõe, poderão parecer relativamente estéreis de resultado no domínio metafísico do ser abstracto em que os coloca, mas, se os transferires para a esfera da arte, verás como são ainda vitais e plenos de sentido. Talvez seja como crítico da Beleza que Platão esteja destinado a viver (...)
Oscar Wilde, Intenções: Quatro Ensaios Sobre Estética, António M. Feijó (trad.), Livros Cotovia, 1993.
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