E da lareira a luz patriarcal,
E o pequeno berço da minha criança,
E o acto de ambos jovens sermos
E cheios de projectos...
Não diminuía este sentimento de medo.
E eu aprendi a rir-me dele,
E deixava uma pequena gota de vinho
E migalhas de pão para quem de noite
Como um cão arranhava ao pé da porta
Ou na pequena janela baixa espreitava,
Nesse tempo em que nós, calados, tentávamos
Não ver o que se passava por detrás dos espelhos,
Debaixo de que pesadíssimos passos
Gemiam os degraus da escura escada,
Como que implorando por piedade misericórdia.
E dizias tu, com um sorriso estranho:
«Quem levam eles pelas escadas?»
Agora que estás lá onde sabem tudo, diz:
«Que viveu nessa casa além de nós?»
Anna Akhmatova, Poemas, Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitriev (trads.), Relógio d'Água, 2003 (segunda edição).
Sem comentários:
Enviar um comentário