terça-feira, 12 de julho de 2011

Notas de Benjamin

Desde há séculos que se constata que a ideia da morte está a perder omnipresença e força evocadora na consciência colectiva.

(...)

Hoje os burgueses, habitantes áridos de eternidade, vivem em espaços depurados da morte e são, quando se aproximam do fim, arrumados pelos herdeiros em lares ou hospitais. Ora é precisamente ao morrer que o indivíduo transmite, em primeira mão, não apenas os seus conhecimentos mas, sobretudo, a experiência da sua vida - isto é a matéria com que se constroem as histórias. Assim como no interior do indivíduo, agonizante, desfila uma sequência de imagens - quadros de situações por ele vividas, sem se ter dado conta - também o inesquecível aflora, de repente, na sua fisionomia e no seu olhar, conferindo autoridade a tudo o que lhe dizia respeito. Na hora da morte, até o maior pobre-diabo possui essa autoridade perante os vivos que o rodeiam. Esta autoridade está presente na origem da narrativa.

Walter Benjamin, Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, Relógio D'Água, 1992.

1 comentário:

  1. "Wherever you come from, whatever flag is draped in the coffins of your dead, the word 'burial' carries with it something of your 'dúchas'(palavra gaélica que designa: inheritance, patrimony, native place or land; connection, affinity or attachment due to descent or long-standing;natural tendency.a kind of ideal of the spirit, an enduring value amid the change and the erosion of all human things...). It emphasizes, in other words, those 'Instinctive Powers of Feeling, Love and Kinship' which autority must respect if it is not to turn callous [...]" Seamus Heaney: 'Title deeds: Translating a Classic', in Living Classics, OUP, 2009, p. 139.

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