IV
Nós, os que nunca fomos sereias,
embarcamos em pequenas naus de regresso.
Somos imensos como a sombra vaga
no bosque sugerido pelo rasto dos montes,
de peito erguido ao infinito deste lugar.
E nossos filhos? Se aqui morrermos,
se aqui tivermos outro sítio que não a espera
seremos amados na memória do que não fomos.
Será tão breve a perfeição como é breve
a terra que se abre para o cadáver,
estar morto sempre foi vantagem
para quem sonha a eternidade. Não estamos juntos às ondas,
não choramos, a areia não faz tempo no relógio
nem a praia tem anos para gastar.
Melhor será vivermos na memória
do que neste corpo indizivelmente absurdo:
a mulher que nos amou terá no nosso enterro
a mais pura das razões para amar —
nunca contará com nosso regresso.
E abandonados somos voluntários náufragos
na esperança de morrermos cedo,
como um herói destinado, um mártir indecente,
uma cruz levantada entre o cais que nos deixam
e aquela ilhota obscena de estranha gente
que teima em não saber quem somos,
esses pequenos homens infelizes e convencidos
de que nós, depois de mortos, os recordaremos.
Pedro Braga Falcão
Adoro!
ResponderEliminar:))))))))
Jinhos
Ele é bom poeta, sim senhores.
ResponderEliminar