I
Quando os meus sonhos deram sinais
de se estarem a tornar
politicamente correctos
nada de imagens insubordinadas
escapando para lá de fronteiras
quando ao andar na rua encontrei os meus
temas cortados à minha medida
soube o que não chegaria a dizer
por medo de que disso fizessem uso inimigos
então comecei a pensar
II
Tudo o que escrevemos
será usado contra nós
ou contra aqueles que amamos.
São estas as condições
aceita-as ou desiste.
A poesia nunca teve hipótese
de prevalecer fora da história.
Uma linha dactilografada há vinte anos atrás
pode ser ateada numa parede a tinta de spray
para glorificar a arte como distanciamento
ou para torturar aqueles que
não amaram mas também não
quiseram matar
Nós progredimos mas as nossas palavras permanecem
tornam-se responsáveis
por mais do que aquilo que esperávamos
e isto é privilégio verbal
III
Tenta sentar-te a uma máquina de escrever
numa noite tranquila de verão
numa mesa junto a uma janela
na província, tenta fingir que
o teu tempo não existe
que tu és tu simplesmente
que a imagem se limita simplesmente a vaguear
como uma imensa mariposa, sem intenção
tenta dizer a ti próprio
que não és responsável
pela vida da tua tribo
o fôlego do teu planeta
IV
O que pensas não importa.
Prova-se que as palavras são responsáveis
tudo o que podes fazer é escolhê-las
ou escolher
ficar calado. Ou, nunca tiveste escolha,
e é por isso que as palavras que prevalecem
são responsáveis
e isto é privilégio verbal
Adrienne Rich, Your Native Land, Your Life, Norton, 1993.
Versão minha.
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