segunda-feira, 11 de julho de 2011

Questões de semântica















Tenho na cabeça o embrião de um texto sobre o venerando imperador (não tão venerável) Gaio (Calígula). O embrião da ideia deve ter aparecido há talvez um ano. Tem que ver com uma questão absolutamente vital sobre o senhor mas cujo conhecimento depende apenas do modo como se escolhe interpretar um termo que surge na única fonte directa para o seu principado: este termo pode ser traduzido à luz do que disse outro historiador sobre o contexto de que o passo fala, ou de modo isolado e independente, como se não soubéssemos nada do que o outro disse.
E depois há a melancolia de que se embebe este tipo de exercício. Que as maiores disputas de poder, os maiores arroubos de vontade, de violência, de ternura, que moveram e afectaram as vidas de tanta gente (quanta nunca saberemos) se reduzam a pó. E reduzidos a pó sejam só matéria de discussão para uma rapariguinha rodeada de livros no canto poeirento de uma biblioteca. Questões de semântica. Menos do que o ténue indício de uma pegada. Saber talvez seja uma das paixões mais fortes, mais exigentes e interessantes, mais significativa por causa daquilo que pode pôr em movimento. É também, em alguns contextos, uma das mais tristes.

3 comentários:

  1. Existe uma edição d'«As memórias de Adriano» que inclui um belíssimo posfácio da autora com os mesmos escrúpulos.Quem sabe não seja a consulta esclarecedora e te faça alguma utilidade...

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  2. Francamente não sei . Nem sequer se não será um posfacio ne varietur , presente em qualquer edição . Bastará indagar no primeiro exemplar que encontres , mas estou convencido que vais achar interessante , porventura esclarecedor .

    ;-)

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