terça-feira, 5 de julho de 2011

As coisas mais importantes

Quando nos vimos pela última vez, ele quis dar-me o seu anel, aquele com a serpente. Recusei com os olhos. Ele atirou-o da falésia para o mar. A curva que descreveu, brilhando ao sol, ficou-me marcada no coração. As coisas mais importantes ninguém nunca as saberá de nós. As tábuas dos escribas, endurecidas no fogo de Tróia, deixam os registos de contabilidade do palácio, cereais, vasos, armas, prisioneiros. Não há escrita para dor, felicidade, amor. Sinto isso como uma desgraça premeditada.

Christa Wolf, Cassandra, João Barrento (trad.), Livros Cotovia, 1989.

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