Segundo o cruel Zenão, que dá o nome ao paradoxo homónimo, um objecto está imóvel no espaço quando ocupa um lugar equivalente às suas próprias dimensões. Em qualquer momento do seu rápido voo pelo espaço, uma seta ocupa sempre o lugar igual às suas próprias dimensões, nem mais nem menos, logo está em repouso, não se move.
Quer isto dizer, que se pusermos o atleta Aquiles (a.k.a Aquiles de Pés Velozes, podarchês achileus [se a memória no grego não me falha]) a competir com uma tartaruga que, de dado ponto, parta primeiro que ele, quando ele a alcançar, já ela se terá deslocado do ponto de onde partiu e estará sempre um passo à frente de Aquiles, porque temporalmente alcança esse ponto antes de quem a persegue. Portanto, para Zenão, a única maneira de ele viajar no espaço seria? Duplicar-se nele? Expandir-se?
E quão cruel é a ideia de um mundo sem movimento, a noção de que podes ir de uma cidade a outra mas que nem assim te estás a mover, que apenas te desperdiças no espaço e no tempo? E quanto a Aquiles ser humilhado por uma tartaruga, Aquiles o tipo que com aquele voo de águia em torno das muralhas de Tróia tanto humilhou Heitor?
Por isso escreveu Válery, não me lembro já onde, aquele poema em que dizia, «cruel Zenão, com uma flecha me trespassas, uma flecha que vibra mas não voa, pelo som nasço, pela flecha morro». Válery encontra, neste poema, uma forma de estilhar pelo som (eppur si muove o som) o que o rápido avançar da flecha não pode, para Zenão, quebrar.
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