Devo estar doido, murmurou, repetindo palavras de há treze dias. Gostaria de encontrar, nesta confusão, um sentimento que prevalecesse sobre os outros, de modo a poder responder, mais tarde, se lho vierem a perguntar, E como é que você se sentiu na terrível situação, Senti-me preocupado, ou indiferente, ou divertido, ou temeroso, ou envergonhado, em verdade não sabe o que sente, só deseja que as quatro horas cheguem depressa, o encontro fatal com o leão que o espera de boca aberta enquanto os romanos aplaudem, são assim os minutos, ainda que em geral se afastam para nos deixarem passar depois de nos rasparem a pele, mas sempre haverá um para devorar-nos. Todas as metáforas sobre o tempo e a fatalidade são trágicas e ao mesmo tempo inúteis, pensou
José Saramago, História do Cerco de Lisboa, Caminho, 2008 (8ª edição).
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