quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Literatura

Inventada no Ocidente muito provavelmente por um grego cego, cujo nome, Homero, pode significar O que não vê ou, dependendo de como se dividir a palavra, qualquer coisa como A Parte (o que em parte ajuda a que muita gente pense que ele nunca existiu ou que fazia parte de um grupo), por volta do séc. IX a.C., e difundida por uma escola de aedos, homens que cantavam, talvez cegos como o primeiro, foi trazida para Roma e tornada definitivamente objecto de veneração e estudo nesta cidade (então ainda a uns séculos de atingir o seu apogeu como capital de um império e do mundo) quando um tipo chamado Crates de Malo partiu a perna na cloaca maxima (expressão latina que designa aquilo que em português parece designar) e, não tendo mais nada para fazer, resolveu dar umas aulas de literatura e retórica aos rústicos Romanos, através dos quais viríamos nós  a herdar aquilo a que hoje chamamos mais sistematicamente a tradição literária do ocidente e talvez o próprio hábito dos livros e da literatura, o  de escrever e contar histórias, se é que isso não seria sempre intrínseco tivessem existido ou não os Gregos e os Romanos. 
O étimo latino da palavra literatura, a sua origem, será litterae, palavra que no singular significa letra e que no plural tem por acepção mais relevante qualquer coisa como acção escrita, o que deixa a literatura a meio caminho entre o abstracto e o concreto. É esta palavra, litterae, que depois redunda em litteratura, e que entre os Romanos significa escrito, gramática, filologia, ensino elementar, ciência, erudição, etc. A origem da palavra talvez tenha obscura raiz no grego, διφθέρα, diftera, que significará esconderijo preparado
A verdade é que, tanto quanto sei, os Gregos, que entre os ocidentais inventaram a literatura e sobre ela primeiro pensaram, nunca tiveram um nome que lhe chamassem, ou talvez lhe chamassem genericamente ποίησις, poiêsis, que tem raiz no verbo ποιέω, fazer. Poesia é em primeiro lugar algo feito, não  tanto fabricação mas talvez craft ou criação, acção escrita, e mais tarde poesia, texto poético, composição poética. Esta última expressão também podia ser dita, de forma mais precisa, ποίημα, poiêma, poema.
Entre os Romanos o melhor contador de histórias talvez tenha sido esse homem com um nome que traduzido para português é completamente bárbaro: Públio Ovídio Nasão. Se ainda não leram isto, vale muito a pena. Mesmo muito.

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