para Ana de Sousa Vitorino
devagar estou desfazendo como um gato o novelo mas
sem a fúria pertinaz do gato vem e dá-me pelo pescoço
mão que sufoca ou poeira para uma distância levando-me
hesitante por um braço dia de muito calor
na berma da estrada o aprumo que mostram
os velhos nos seus negros coletes lendo o jornal
ficaram nas aldeias de onde subimos à cidade
de lisboa que não é mais que uma escada que desce junto ao rossio
os limoeiros deixámos e viemos eles quando florescendo
guardaram-nos uma alegria terna de flores como se alguém que dançando
tropeçasse nos próprios pés pisasse no risco de giz o chão
como tu que a música sobre a laje um pouco mais alta
pisas e dás por ti de novo subindo o azul nas escadas
com modos furtivos como para roubar qualquer coisa
o quê não importa e eu digo que me vendesses qualquer coisa
porque minha é uma alma comercial dessas que se alegram
na troca de pequenas ninharias como lápis de cor e penas coloridas
ou por exemplo a moeda em êleusis trocada por outra moeda
eu teria já um óbolo ao engano como a mão crispada
no bolso cerzido em êleusis traição perpetrada quando somos
ao engano o princípio do mistério somos nós
bafejando baixo na mão um novelo de linhas
amarelo mas sempre outra coisa outra coisa
com toleráveis fios de lã nos ataram as mãos o vinho amargo na boca
nunca havemos nós de tolerar o destino que nos foi imposto
Tatiana Faia
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