De todos estes factos nasceu a história: o rapto de Helena e a guerra de Tróia e, ainda antes, a expedição da nau Argos e o rapto de Medeia, elos da mesma cadeia. Um apelo oscilava entre a Ásia e a Europa: a cada oscilação, uma mulher e, com ela, um bando de predadores, passavam de uma margem para a outra. Mas Hérodoto observou que havia, porém, uma diferença entre as duas partes: «Ora, o rapto de mulheres é considerado obra de malfeitores, mas preocupar-se com mulheres raptadas é obra de insensatos, porque é evidente que, se elas não tivessem querido, não teriam sido raptadas». Os Gregos não se comportaram como sábios: «Por causa de uma mulher de Esparta, preparam uma grande expedição e, quando chegaram à Ásia, aniquilaram o poder de Príamo». Desde então, nunca mais cessou a guerra entre a Ásia e a Europa.
Roberto Calasso, As Núpcias de Cadmo e Harmonia, Maria Jorge Vilar de Figueiredo (trad.), Livros Cotovia, 1990
Roberto Calasso, As Núpcias de Cadmo e Harmonia, Maria Jorge Vilar de Figueiredo (trad.), Livros Cotovia, 1990
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