terça-feira, 20 de julho de 2010

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Talvez por divertimento,
me esmagues a cabeça contra um muro,
ou antes, por ser grande a minha ofensa,
com um pé nu me quebres a garganta.
É bem melhor assim, do que o rasgão
irregular e rombo das navalhas,
ou o silvo cortante das palavras
vibrando no ar frio como uma foice;
dá para ver a fina tatuagem
de uma cobra em redor do tornozelo,
ou admirar, em última mensagem,
a distinção da voz que me anoitece.
Antes assim que de cortês figura
a meio me cortares por desmazelo.

António Franco Alexandre, Duende, Assírio & Alvim, 2002.

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