Endrémia e Liasão
(da mitologia grega)
Endrémia era filha de Poligaminos, deus da Ensilagem, e de Reba, deusa do Alcaçuz. Era o rebento de uma união infeliz, como mais tarde se soube, porque, quando era ainda pequenina, o pai bateu na mãe com uma bigorna e transformou-se em lírio, para evitar a vingança de Júpiter. Júpiter, porém, era demasiado astuto para Poligaminos e derrubou-o com uma faísca do tamanho do prédio do Banco dos Retalhistas, coisa que o fez desequilibrar-se por completo e o levou a cair no abismo e a esbarrar na morte.
Enquanto isso, a pequenina Endrémia viu-se sozinha no mundo, sem ninguém que lhe acudisse, excepto Endrócina, deusa da Alface, e seu filho Bilás, deus da Goma Arábica. Mas, como Poligaminos (seu pai; já se esqueceram, seus palermas?) havia transformado Endrémia em cogumelo antes de ele próprio se transformar em lírio, nenhum dos seus protectores sabia quem ela era, por isso, de nada lhe valia tal protecção.
Júpiter, todavia, não esquecera tão depressa a filha da sua favorita (Reba), e apareceu-lhe uma noite, em forma de colector de cogumelos, perguntando-lhe se ela gostaria de sair daquela árvore (ela era um cogumelo dos que crescem nas árvores) e entrar para dentro do cabaz que trazia na mão. Endrémia, ignorando que era Júpiter quem tal lhe perguntava, pouco disse. E então Júpiter, soltando a sua ira poderosa, derrubou a árvore toda, com uma faísca que trouxera para o caso de Endrémia não ouvir a voz da razão.
É por isso que não é prudente comermos os cogumelos que crescem nas árvores ou recusarmos entrar para dentro do cabaz de Júpiter.
Robert Benchley, «Contos Felizes da Infância», Wit: ensaios humorísticos, Tinta da China edições, Lisboa, 2010 (trad. de Júlio Henriques).
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