Wallāda bint al-Mustakfī (994-1091) foi filha de Muḥammad III al-Mustakfī, um dos últimos califas de Córdova (1024-1025). Contam os seus contemporâneos que era de uma beleza extraordinária, de longos cabelos dourados e pele suave. Mesmo depois do assassinato do pai, em 1025, manteve-se à tona na sociedade de Córdova, liderando o mais importante salão literário da cidade. Passou, no entanto, à História pela sua moral pouco condizente com os preconceitos sobre a mulher muçulmana, e pelos poemas de carácter explicitamente amoroso ou satírico.
Não tendo nunca casado, manteve várias relações amorosas, das quais a mais conhecida e frutuosa do ponto de vista literário foi com o poeta Ibn Zaidūn. Desta relação nasceram alguns dos mais belos textos da literatura árabe - e também alguns dos mais malcriados. Na verdade a relação terminou de forma tempestuosa, por razões pouco conhecidas. Segundo algumas versões, Ibn Zaidūn teria traído a princesa com uma escrava negra. Outras fontes insinuam que não foi uma escrava, mas um escravo. Certo é que Wallāda rifou Ibn Zaidūn, e trocou-o pelo seu arqui-inimigo político, o vizir Ibn ʿAbdūs. Também desta ruptura haveria de nascer uma soberba e famosa obra literária, a "carta cómica" de Ibn Zaidūn, onde regurgita uma crítica ferocíssima ao rival.
Mas concedamos a palavra à princesa Wallāda, que pouco depois de mandar Ibn Zaidūn dar uma volta lhe dedicou este simpático poema:
É verdade que Ibn Zaidûn tem um cu
que adora as vergas nas ceroulas.
Se ele tivesse visto um caralho sobre uma palmeira,
ter-se-ia transformado no pássaro ababil.
Traduzo directamente do original árabe, com revisão de Nadia Bentahar. Optei por transformar os hemistíquios em versos independentes, por razões estéticas. A referência ao "pássaro ababil" é ordinaríssima e remete para a Sura do Elefante (105), que relata como o exército dos abissínios foi dizimado por pássaros ababil, que o deixaram como "um campo devorado".
Thumbs up (aquela coisa do facebook...)
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