domingo, 14 de março de 2010

por isso me serve de longe a máscara
janela aberta sobre a cidade
as mãos travadas sobre a trave de pedra
respirando o possível caminho que se abre
sobre tudo e este horizonte ainda
entrevisto ao correr de lâminas

esse fruto que com desinteresse me estendes
como que para aplacar a sede
que será de mim se for como tu foste
quando vier a tarde
a hora marcada diante do espelho

que será quando tornar diante da mesa
mãos pousadas sobre os joelhos
a posição imóvel da pedra
anjo esfarrapado respirando sobre mim
a tinta vermelha estalando sobre o búzio
foi há tanto tempo já

a última vez que regressei a casa
nem me recorda já o ferir da luz por sobre pontes
um pequeno ângulo em que fingimos respirar
quando terei olhado do chão esse curso de rio
que as minhas cicatrizes não sulcam nem alteram
que será de ti às primeiras flores
aos primeiros sinais desta primavera tardia

eu que nunca te esqueço pouso
vagamente os dedos sobre os lábios
ladeio entre lanças a distância
e a ladainha desencantada
de usar a voz para em bronze ferir
o correr do tempo

parti sem saber todas as palavras
parti cedo e desenganada já de frutos
de flores de sábias promessas
tornarei por esses caminhos já demasiado tarde
já sem me obrigar um regresso

Tatiana Faia

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