terça-feira, 2 de março de 2010

possas tu permanecer constante
quando te descer
sobre as mãos a noite
quando não houver mais luz
mais rasto de esperança
para atenuar certas linhas
que o tempo nos vai lavrando no rosto

possa sempre a tua voz descer sobre mim
como um desses cantos de pássaro
que são companhia de homens bons
nas suas horas mais tristes

possa acompanhar-me ainda essa memória
do teu riso claro quando eu não tiver mais palavras
mais linhas de terra por onde atravessar
esses modos de angústia sem memória
e sem nome que todos mais cedo ou mais tarde
vão tendo por caminho
mesmo quando o não escolhem

possam pertencer-nos algumas palavras
serem só nossas
que outros não entrem nelas
punhado de terra entre as mãos deslizando
tendendo para o raiar de cada dia
onde possamos sempre regressar.

quando tiver de ser
que me encontre como a tua voz
onde mais nenhuma luz me bastar.

Tatiana Faia

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